quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

(A Cigana de Katakoram- Continuação)

...
Ø
...
No escuro, ar seco, ela lança seu espírito rumo aos grandes rochedos. O corpo ansioso vislumbra a projeção deste futuro que quase consegue tremer por sua espinha. A mente o alcança como uma flecha e do nada, pára. Do silêncio do deserto toca o “Não”. E seu corpo, que já foi gordo, magro, flexível, rígido, agora, obedece: fica na areia que já também queria ir-se como o vento.  Kantara, espírito lá, corpo aqui, para onde poderia ir? Como se mover se já havia receio, se já irrigava o medo que a solidão plantara? O que queria nesse momento - mesmo que fosse o mais curto, acabasse triste e depois perdesse tudo o que trouxera desde os ancestrais dos seus ancestrais - era um amigo que fosse olho no olho.

Quando o encontrou riu. Primeiro foi o riso de nervoso, seguido o de alegria já acasalado com o de medo de ser mentira ou, talvez pior, de ser verdade – porque neste caso então já sabia que o fim ia fazer doer. Dor esta já provada, um pequeno gole que bastou para ter razões em viver só. Mas não conseguia. Estava viva! E muito melhor que razões é viver. Então riu da curiosidade dele, que queria saber como é que ela era quando chorava!

- “Eu fico me levando muito a sério e deixo as lágrimas escorrerem dos meus olhos, igual a todo mundo”. Novamente, risos, risos muito bons, risos de tempo presente. Mundos tão diferentes e ainda assim ele estava ali, tão perto que mal chegando e já fazia saudade. A partida, que sempre acontece, será então um dia tão ... cheio! Haverá muita angústia, muitas lembranças lutando para não serem o que são: um passado que só se pode ver e não pegar, como um doce na vitrine em tempos de pouco dinheiro.

Kantara sentia tanto medo de perder esse Encontro, estava tão apegada a ele que agora, a qualquer momento longe de seu amigo já se sentia só. E sabia que isto não era bom.  Tentou retomar seu rumo e, numa surpresa de botar pânico, achou tudo sem sentido: o antes e o depois. - Eu vou ficar aqui parada, na estrada. Pode encostar – dizia ela para Ninguém Mais, que então passava ali assim como uma uva passa.

 O destino se mostrava cru, puxando o tapete do tempo numa maravilhosa demonstração daquilo que ele não parecia, mas era: Mutável. Kantara atravessa como uma katana guiada pelas mãos de um samurai: Precisa.
 ^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^Fim????~~~~~~~TCS^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^^Itaipuaçu e,Belo Horizonte 2007-2008-2010!

Nenhum comentário:

Postar um comentário