ALUCINAÇÃO VERDADEIRA
Muito antes de o mundo ser o que é hoje, não havia cidades. Não havia cobertores rasgados em nenhuma rua. Não havia: modas de silicones, escovas progressivas
e não tinha moeda tão valiosa que pudesse comprar pessoas
Não havia.
Num tempo de cheiros e verdes que de vez em quando a formiga comia
Sob um céu pintadinho de estrelas em que a conversa ria
Amigos jamais esqueciam um bom vinho
Os velhos nunca ficavam a margem do caminho
Solidão
Não havia.
Havia isto sim - para mesclar com toda gargalhada, talvez –
Alguma melancolia
Mas era coisa pouca, pra fazer charme pro dia que já se esvaia
Havia também noites de dramas e desgraças
E todas as tristezas que nascem com a teimosia do querer existir completo
Mas passava, descoberta a trapaça surgia o caminho de vazio repleto
Porém, passar dias e anos a comprar e a vender
Sem olhar, sem aquecer, sem lembrar de que sem é
Não, não havia.
Tudo aquilo existia
Por mais que dissessem que não
Ou que sim, se alucinação
Por mais que julgado errado
Ou que fosse pecado não concordar com a maioria
Por certo não havia...
Mas que eu via, via.